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O algoritmo Jair Bolsonaro


Algoritmo (algorithm), em sentido amplo, é um conjunto de instruções, como uma receita de bolo, instruções para se jogar um jogo, etc. É uma sequência de regras ou operações que, aplicada a um número de dados, permite solucionar classes semelhantes de problemas. (ELIAS, 2017, p.1)


Os algoritmos funcionam recebendo informações sobre os usuários e suas ações e cria um banco de dados – armazenado em suas redes físicas, computadores e processadores – que irão ofertar informações que interessam e são mais relevantes para um determinado usuário. Esses algoritmos são conhecidos como “algoritmos de relevância pública” e podem ser usados para oferecer uma propaganda de um novo smartphone ou de um candidato à presidência dependendo do perfil de cada um de nós e como nos comportamos nas redes.


Não é atoa que nas eleições de 2018 no Brasil, várias induções de conteúdo eram apresentadas aos usuários a partir da demonstração de interesse particular. Usado principalmente por plataformas, como YouTube, os algoritmos encaminham você para o próximo vídeo em alta, linkado com a temática assistida anteriormente, induzindo a visualização de vídeos ranqueados e levando ao contato informações tendenciosas do momento. Um traço marcante do algoritmo é prever as preferências de quem está acessando, por isso a tela principal acaba sendo tomada por recomendados. E assim, o uso em larga escala das redes foi uma tática utilizada por Jair Bolsonaro - presidente eleito - similar a feita por Trump em 2016 e provou ser uma receita de “sucesso”:


Em primeiro lugar, na dimensão dos instrumentos, do uso das redes sociais, dos instrumentos de comunicação digitais, mas mais do que isso, também há uma exploração bastante organizada da big data, de banco de dados e utilização de robôs. Os dois utilizam muito isso. (AMADEU, Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2018/10/04/bolsonaro-repete-metodos-de-donald-trump-em-sua-campanha/ )


Os algoritmos, na verdade, enquadram o usuário em um tipo de perfil com base nos padrões de milhares que compartilharam o mesmo tipo de informações. Através do banco de dados, disponibilizado nas redes, se mantém um histórico, que automatiza o pensamento, deixando o indivíduo pronto para o próximo link, vídeo, canal, ou seja, a decisão segue uma linha tênue através do que se é ofertado e o que se escolhe. E assim, é vendida a ideia de que existe uma imparcialidade e neutralidade na materialização do usuário, ditas por essas mesmas empresas que desenvolvem controlam as redes para não assumirem uma responsabilidade sobre o processo para a construção de dados.


Ao se trabalhar com algoritmos é preciso sempre ter em mente que eles são o resultado de complexas redes sociotécnicas, formadas por diversos atores humanos e não humanos, e que influenciam e participam da construção de sentidos dos usuários das plataformas em que eles trabalham. (DALBEN JURNO, p. 9)


Por isso o âmbito das eleições não deve ser desconsiderado, já que a seleção de critérios e ranqueamento, também perpassam as questões políticas, fora as econômicas que também se envolvem o contexto de interesses para essa visibilidade que transita a primeira página de sugeridos. De onde advém essa relevância?


..os algoritmos não são apenas processos computacionais abstratos, mas entidades que têm também o poder de implementar realidades materiais ao moldar a vida social em vários níveis (BUCHER, 2016).


Um “boom” estrondoso aconteceu no segundo trimestre de 2018, com canais de extrema-direita, como o Folha Política em julho não tinha nenhum índice para quase 3.000 aparições no ranking nos mês de eleições. Essa explosão não é pautada só interesse dos usuários, mas sim em como algoritmo encaminhava o acesso das pessoas num período crucial para o destino do país. Antes de agosto, de acordo com pesquisas, Bolsonaro era apenas mais um na corrida pela presidência. Porém, com YouTube tornou-se foco para os olhos de quem utilizasse a rede social, através dos vídeos relacionados, em alta e nos rankings principais do país, alavancando seu processo que levou à candidatura.


Ao todo, 248.652 vídeos com o termo “Bolsonaro” no título estiveram no “Em alta” no semestre, publicados por 488 canais. Muitos dos hits vêm de contas obscuros, como a Bolsonaro TV, que emplacou vídeos mais de seis mil vezes no “Em Alta”. Os 15 canais de direita que mais cresceram representam 3,1% do total de canais que tiveram vídeos com “Bolsonaro” no ranking, mas responderam por um a cada cinco vídeos do tipo — no total, 47.243. (Algoritmo do YouTube impulsionou canais de extrema-direita nas eleições de 2018 Disponível em: https://manualdousuario.net/youtube-em-alta-extrema-direita/)


Os algoritmos são procedimentos matemáticos mediados por máquinas, porém ainda são alimentados por atores humanos e não-humanos, e por isso participam da construção de sentidos e diferentes forças. Por conta disso, Jurno e DalBen concluem sobre as características dos algoritmos que vão além da ideia de neutralidade para apresentar conteúdos de interesse do usuário, mas sim, de gama de interesse muito maior que não se resume a um só acesso.


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