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A chegada do smartphone surgiu da necessidade da população em estar constantemente conectado à internet, assim como a emergência das mídias sociais surgiram da necessidade de facilitar e expandir a comunicação entre as pessoas. Ao se pensar a relação dos jovens com a tecnologia e refletindo, também, sobre a contribuição de Raymond Williams (2018), que afirma que "nas democracias capitalistas, o impulso à conversão de tecnologias dispersas em uma tecnologia não foi político, mas econômico", é possível entender no uso de narrativas transmidiáticas nas séries atuais.


O exemplo de série que utilizada dessa narrativa é SKAM (clique para ver trailer): uma série norueguesa com roteiro e direção de Julie Andem. O enredo de SKAM se estabelece em rede na vida de um grupo de adolescentes de uma conceituada escola no bairro rico de Oslo, na Noruega, acompanhando seus problemas e rotina do dia-a-dia. A série foi idealizada tendo em mente a aproximação com seu público alvo, os jovens. Isso pois, antes da série de fato ser criada, a idealizadora - Julie Andem - viajou para diversos lugares da Noruega para saber a opinião de jovens, na faixa etária de 15-24 anos, sobre os gostos deles relacionados a séries. O que muitos diziam é que uma das partes ruins em séries convencionais, era o fato de terem que esperar uma semana para assistir um novo episódio. O entendimento da autora se associa com a cultura da convergência:


Não ocorre por meio de aparelhos, por mais sofisticados que venham a ser. Ocorre dentro dos cérebros de consumidores individuais e em suas interações sociais com outros. (JENKINS, 2009, p. 23)


Assim surgiu o modelo de uma série com um formato de distribuição híbrido, onde todo dia da semana um pedaço do episódio era divulgado no site oficial da série e, no fim da semana, numa sexta-feira, o episódio era lançado por completo na emissora. Esses clipes não eram divulgados aleatoriamente pois, já que um dos conceitos da série é dar ao público a sensação de que está tudo acontecendo em tempo real, durante toda a semana, os clipes eram liberados nos dias e horários específicos - de acordo com o fuso horário da Noruega -, correspondentes à cena (conforme imagem abaixo).



A rede social é uma ferramenta indispensável para entender a relação em teia da juventude e da tecnologia na narrativa. Em SKAM, não são necessariamente criados sites fakes para dar a série um "ar de realidade" ao enredo, mas são criados perfis dos personagens em mídias sociais. Para dar coerência a história os posts publicados nos perfis eventualmente aparecem na série (primeira imagem mostrada abaixo) e, todos os posts que aparecem na série estão presentes nas redes sociais. Além disso, para proporcionar ao consumidor uma experiência ainda mais imersiva e fazê-lo entrar no mundo ficcional, as trocas de mensagem entre os personagens através do Messenger também são publicadas no site oficial da série.



“A narrativa transmidiática é a arte da criação de um universo. Para viver uma experiência plena num universo ficcional, os consumidores devem assumir o papel de caçadores e coletores,(...)”(JENKINS, 2009, p.42)


As narrativas transmidiáticas surgiram dentro de uma Cultura de Convergência, onde as novas mídias convergem com as mídias tradicionais e criam novas formas de interação entre si e, consequentemente, entre o produto e o público. Essa convergência, portanto, "altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos [...] e altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento" (SANTOS, 2013).


Assim, pensar as relações sociais e de poder existentes em SKAM, recai sobre o questionamento sobre o que as mesmas convocam sobre os hábitos, costumes e socialização das realidades vividas pelas personagens em cada contexto temporal e global particular. O que é ser jovem em 2015 ou em 1989 se altera no âmbito das formas de viver a juventude e as consequências da busca por essas diferentes formas, porém a experiência de ser jovem é uma constante. A experiência de ser jovem abriga incertezas, descobertas e mudanças. Já as formas de viver a juventude serão sempre influenciadas pela conjuntura de tipos de redes que a integram, seja a social, política, pela sua posição geográfica e pelo foco de nossa abordagem, o desenvolvimento tecnológico.


A escolha do tipo de narrativa transmidiática utilizada por SKAM revela, portanto como se configura a relação da juventude com o surgimento de novas plataformas de sociabilidade, como as redes sociais. Ao escolherem trazer elementos que fazem parte do cotidiano dos jovens. O smartphone se tornou quase como uma extensão do corpo do jovem, que sente a necessidade constante de saber o que está acontecendo no mundo e na vida das pessoas próximas a ele.


Ao traço da associação, edificam as redes na relações humanas com ajuda da comunicação, o uso da cultura de convergência de Jenkins fortalece com o suporte midiático e na co-relação com o público. Causando um aumento da teia que conecta os grupos a inserem, porque o alcance torna-se parte das transformações, sejam tecnológicas ou sociais, a juventude abordada na série é espelho de quem assiste. Sendo assim, uma base de interações e troca, entre quem produz e quem consome.


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As redes sociais, como conhecemos hoje, fazem parte do nosso dia a dia e das nossas relações interpessoais. Muitas vezes moldamos nossa personalidade, interesses e formas de existir com o objetivo de nos adaptarmos aos moldes ditos nas redes sociais. Apesar de seus lados confinantes, a rede pode servir de ferramenta de mediação quando pensamos sobre o processo de luta e mudanças sociais na atualidade. Em Tramas da Rede, Pierre Musso fala que a "rede é o fim e o meio para se pensar e realizar a transformação social. (...) Não há mais necessidade de se operar a mudança social, ela se faz permanentemente." (2010, p.37).


A Primavera Árabe, composta por protestos que ocorreram entre 2010 e 2011 contra regimes ditatoriais e a favor de melhores condições de vida, é um grande exemplo de mobilização social intermediada pela tecnologia da comunicação. O movimento nasceu na rede social Facebook e no mesmo foi alimentado e explodiu em uma grande revolução


“As verdadeiras revoluções são possibilitadas pelas tecnologias da comunicação, a começar pela internet, que realiza a utopia da associação universal pelas redes de comunicação.” (MUSSO, p.34)

Não sendo o único ponto presente, com a globalização - que foi uma quebra de barreiras um dos avanços conquistados com a internet (a troca de informação rápida) - houve um grande rompimento na eliminação de fronteiras e na cultura do conhecimento. Nesse momento já era possível tanto se comunicar com alguém que se encontrasse em outro continente, quanto a busca sobre qualquer lugar no mundo. A conclusão que se chega é que esse avanço não parou.


Mas seriam as redes viáveis ou inviáveis? Qual a sua utilidade para sociedade?

Segundo Jean-Louis Weissberg, em uma tentativa de explicar os paradoxos das tecnologias, é apresentado por ele a relação de redes e territorialização (em coletividades territorialmente próximas), onde ele apresenta que as relações passam a ser desterritorializadas. Apesar de já expressarem um conjunto de conteúdos essas redes que se conectam pela a internet, elas passam agora a ser mais conectadas por outros canais, e acabam reforçando seus laços de aumentar a intensidade de encontros reais.



O conceito de World Wide Web - ou teia mundial - perpassa por seu entendimento como um planeta relacional, que abriga uma sociedade transparente, consensual e democrática (MUSSO, p.35). Todavia, como dito por Pierre Musso em texto, esse conceito entra em choque em com concepção a dos empresários que veem nesse universo de um mercado poderoso para criar e influenciar gerando lucro em cima disso.


Porém, o entendimento do espaço web como um ambiente que também abriga interesses comerciais não retira sua potência como ferramenta do ativismo. Se bem utilizado, os interesses do capital podem servir de fortalecimento de uma rede de mobilização social. Um grande exemplo disso foi boom de influenciadorxs digitais que passaram a assumir seus cabelos crespos e cacheados nas redes sociais, e com isso influenciaram milhares de seguidores a se juntar a essa causa político-simbólica. Toda essa repercussão que partiu do político, do identitário, gerou no mercado uma urgência para atender o público consumidor de produtos afro, que no passado era totalmente desconsiderado por instâncias do capital.


Pierre Musso fala, em texto, que a rede carrega em si a possibilidade de revolução, por isso, a rede se encontra como prótese técnica da utopia social, ela é símbolo utópico de associação universal, em concepção e ação que anuncia relações igualitárias. (MUSSO, p. 34). Assim, levantamos uma ambiguidade em que se abrigam as relações sociais mediadas pelo ciberespaço. Uma campanha beneficente ou um movimento social mediado pela internet ainda precisam das curtidas, do compartilhamento, o tuíte, do comentário, do follow para ter engajamento.



Essas ações são interseccionadas por sua realidade fora da plataforma mediada por computadores. “...A internet é um instrumento que desenvolve, mas que não muda os comportamentos; ao contrário, os comportamentos apropriam-se da internet, amplificam-se e potencializam-se a partir do que são” (MORAES, 2004: p. 273). Ou seja, ela ocupada por pessoas e as mesmas ainda serão responsáveis por decidir quais causas devem ou não serem apoiadas, e devem ou não serem divulgadas ou esquecidas a partir de suas concepções políticas e sociais.


Não é atoa que a rede é definida como uma estrutura de conexão estável no tempo. As redes são líquidas, não podem ser abrigadas como fontes utópicas de livre circulação, onde há democracia e igualdade, mas também não podem generalizá-las como o inferno do controle.


Bom, ainda hoje é difícil achar uma resposta para essa ambiguidade. Se questione quanto aos meios tecnológicos utilizados em sua rotina diária e a quantidade de realidade que são alimentadas e fomentadas por você nas redes sociais. Quer saber mais sobre o assunto?

Acompanhe as cenas dos próximos capítulos através do blog!







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  • Redes104

Num mundo ao alcance dos dedos das “Polegarzinhas” e “Polergarzinhos” de Michael Serres, ao imaginar redes sociais, o primeiro pensamento que vem na mente de qualquer pessoa é o ambiente que a tecnologia tem criado de relações, compartilhamento e informação. Mas esses tópicos são primórdios de uma comunicação que antecede a tecnologia ao alcance de nós.


Segundo Vilem Flusser, a partir do momento em que o ser humano começa a se comunicar, utiliza-se de um processo artificial, condicionando uma segunda natureza para construir a sociedade. Nos transmutamos para ser esse animal político pela necessidade de preencher a solidão, usando de artifícios como a fala para conseguir alcançar o outro, e assim, criamos redes. Como uma teia tecida para a sociabilidade, a humanidade compõe essa transição da primeira natureza que não carregava significados, quanto o mundo codificado em gestos feitos para nos conectarmos com as pessoas.


Antes mesmo de ganharmos espaço enquanto ser único no mundo, já somos envolvidos na comunicação e sentimentos entre a genitora e o bebê. Assim como há a comunicação com seres de todas as espécies. Mas o que nos difere? A língua e a troca, as relações tornaram a vida vivível, deram sentido à existência e impulsionaram a vontade. Mas onde estamos chegando com toda a tecnologia? Seria uma ferramenta, atualmente, em excesso ou necessária? Mudou a vida, trouxe descobertas, conhecimentos...


A esperança é de resistir ao efeito entrópico e se organizar para viver em uma sociedade que utiliza da comunicação como instrumento que produz informação com o diálogo e o compartilhamento no discurso, algo que Flusser diz constantemente em “O que é comunicação?”, através do espelho nos voltamos as Redes Sociais no mundo tecnológico, que utiliza e reinventa os meios de comunicação, através de aprimoramento no desenvolver da sociedade, os códigos só se expandiram.


A especialização do artefato precisou da cabeça, e hoje quem a ela manipula são “Polegarezinhas” e “Polegarizinhos”. Dessa forma, constrói-se um outro espaço que é habitado por uma geração transmutada, que inventa novo laço social, por isso Serres indaga em seu livro: “O que transmitir? A quem transmitir? Como transmitir?”. O saber se polariza, Serres conclui que: “Ele está agora por todo lugar, na internet, disponível, objetificado. Transmiti-lo a todos? O saber inteiro passou a estar acessível a todo mundo".


Do telefone fixo que discava internet nos computadores ao celular mais novo do mercado, com a procura da operadora que ofereça a internet mais veloz. Das cartas ao Orkut, MSN e SMS. Até chegar ao Whatsapp e chamadas de vídeo online. Do uso para diversão e utilidade ao vício. Onde as redes sociais podem nos levar? Seja bem-vindo ao nosso blog e compartilhe suas histórias mais curiosas com as redes.

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